quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Vamos falar de cinema
por Junior Magrafil
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O cinema é um poderoso instrumento de propaganda de atitudes, sentimentos, costumes e idéias. Por ser também um meio de expressão artística, ele abre novos campos aos conhecimentos humanos, aumentando diretamente o poder de observação. Por isso e por tudo, adoro o cinema!
Às vezes me perguntam o porquê de também gostar tanto de história, mas se eu não entender quem fui, como saberei quem sou para, posteriormente, projetar quem serei? Logo, tento entender o passado para compreender melhor o que ocorre hoje, principalmente no que tange o cenário cinematográfico.
Percorrendo um pouco os idos da história do cinema em Caxias, encontrei num texto do prof. F. Caldas Medeiros, publicado em O Pioneiro de 25-12-1967, que a primeira sessão cinematográfica caxiense se deu no Teatro Fênix, atual auditório do Colégio Caxiense, em 1901, com o filme “Os funerais do Rei Humberto na Itália”.
De lá para cá já temos 107 anos. Desde então, o que se tornou, na verdade, o cinema brasileiro e como anda este mercado cinematográfico? Bem, decididamente é um cinema que deve deixar a murcha realidade de divulgação a que sofre atualmente e sair dos pequenos circuitos de exibição; que deve ser assistido, analisado, avaliado por nós, porque é feito com dinheiro nosso, com tecnologia nossa, com criatividade nossa.
Temos 2.150 salas de exibição de filmes no Brasil, mas, apesar de ser um número formoso, representa apenas 7% dos municípios brasileiros e que, infelizmente e aos poucos, começaram a se fechar, de acordo com Vinícius Reis, diretor do filme Saens Peña (durante a oficina de cinema do Maranhão na Tela, em São Luís, que tive a oportunidade de participar em outubro).
Em Caxias já funcionaram o Cine Rex e o Cine São Luís: o primeiro, em uma das dependências de onde hoje está instalado o Armazém Paraíba do “calçadão”; e o segundo, no espaço da Nostra Pizza, abaixo da Associação Comercial. Por volta do final dos anos 60, existiam as sessões de matinê, vesperal e noturna. Durante o vesperal as crianças tinham o costume de trocar revistinhas de histórias em quadrinhos (HQ) com amigos, motivados pela compra, venda e troca que um rapaz fazia em sua banquinha na calçada em frente ao Excelsior Hotel. Revistas como Mandrake, O Fantasma, Recruta Zero, Zé Carioca etc.
É poça em que ainda repercutiam os farwest, ditos filmes de bang-bang, em que os mocinhos eram chamados de “artistas”, e os vilões, de “bandidos”. São coisas que meu pai me contava e de que “tenho saudade”.
Por que não resgatar essa época? Por que não investir naquilo que fez reluzir os olhos das crianças, e brilhar os dos casais apaixonados? Pois uma coisa é a percepção de mundo com os olhos, outra é através das lentes da câmera e seus movimentos reproduzidos numa tela que enche os olhos e envolve todo o corpo e seus os sentidos.

> Curtas:
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• Esta coluna inicia hoje com a proposta de discutir sobre o cinema de forma geral e suas diversas facetas, além de divulgar projetos, cursos, oficinas, eventos culturais em Caxias e região, bastando, para divulgar, entrar em contato.

• Ocorreu nos dias 03 e 04 de novembro uma oficina de teatro realizada pelo SESC através do Palco Giratório, que trouxe pela primeira vez a Caxias o Grupo Artetude Teatro-Circo de Brasília. Após oficina ministrada em São Luís o grupo veio trazendo toda a alegria do teatro aos profissionais das artes cênicas de Caxias e simpatizantes da arte do teatro, finalizando com um belíssimo espetáculo na noite do dia 04.

• O Cine Estação, projeto do Instituto Histórico e Geográfico de Caxias em parceria com CDL/Caxias, SESC/Caxias, Aliança Francesa de São Luís e DAC-UFMA/São Luís, que exibe filmes com entrada fraca todas as sextas-feiras, às 18:00h, já funciona há dois meses e permanece sempre disposto a convidar cinéfilos e a população em geral para assistir aos filmes. A programação semanal está no blog: cineestacao.blogspot.com.

• De 06 a 17 de outubro o projeto “Maranhão na Tela”, em São Luís, ofereceu gratuitamente a mais de 150 pessoas os cursos de roteiro e documentário, com o professor e documentarista Felipe Ribeiro e de direção e produção, ministrado pelo cineasta Vinícius Reis. Trata-se de um projeto que vai além do conceito de festival de cinema, fomenta e democratiza do acesso à produção, capacitação e difusão do audiovisual no Maranhão. Em dezembro, de 1º a 06, São Luís vai contar com a mostra de diversos filmes e com debates sobre capacitação, produção e difusão, que acontecerão durante o Fórum, inserido na programação do festival.

segunda-feira, 24 de março de 2008

O dia em que Bial me ofendeu

por Junior Magrafil
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Pedro Bial, apresentador idôneo do reality show Big Brother Brasil, transmitido pela Rede Globo, fez seu discurso no conhecido “Paredão do BBB”, oitava edição, nesta terça-feira, 18 de março de 2008, salientando alguns contrastes entre as concorrentes Thatiana Bione e Gyselle Soares: suas palavras proferiram que, enquanto Thatiana vinha da “Capital Federal”, Gyselle, de “lá da periferia do Nordeste”. Isso constrangeu não só a mim como também a muitos nordestinos e, principalmente, piauienses que assistiram a este episódio, por ser uma expressão comparativa um tanto quanto forte e depreciativa.
Eu até poderia dizer que os Lençóis Maranhenses e o Delta do Parnaíba são periferia do Nordeste, como também poderia dizer que a Praia de Boa Viagem, que Fernando de Noronha e o Elevador Lacerda são periferia do Nordeste. Também poderia dizer que a Baía de Guanabara, o Cristo Redentor, a baixada santista, a própria ilha de Florianópolis, assim como todo o resto do litoral brasileiro, são todos periferia do Brasil. Mas apenas ao mencionar “periferia” num sentido territorial-geográfico, de estar à margem, afastado do centro de um território específico, localizado a uma região de extremidade; se constituindo especificamente, em minimizar depreciativamente o nordeste brasileiro.
No entanto, também poderia me referir a periferia num sentido metafórico pejorativo. Mas Pedro Bial, por ser um jornalista de grande inteligência e eloqüência, utilizou-se de uma terceira e intermediária forma de referência: um recurso ambíguo. Ele soube bem colocar palavras que nos fizessem entender várias facetas de uma mesma frase.
Gyselle nasceu no interior do Maranhão, Timon, que é região metropolitana de Teresina, capital do Piauí, onde já residiu; todavia é uma cidadã do Nordeste, filha desta terra necessitada e rica; que carece e que também proporciona. Se Bial realmente considerou o estado do Piauí uma periferia, então por que não dizer que apesar de tê-lo considerado assim existem grandes fatos a serem citados com destaque em seu discurso? No entanto, alivia-me perceber a forma carinhosa que Bial a tratava: cajuína (tratamento genuinamente piauiense).
Por outro lado, navegando pela internet, li comentários dizendo que Bial, na verdade, considerou periferia a cidade de Timon. Então está aí uma terrível contradição: se ela é timonense, Bial estaria considerando de fato qual cidade? Gyselle está representando o Piauí ou o Maranhão? E, afinal, por que não o Maranhão?
Lembrei-me, assim, de duas situações deprimentes sobre a valorização do Sul-Sudeste em detrimento do Nordeste. Na primeira: a diretora de minha escola, de quando ainda cursava o 2º ano na cidade de Açailândia(MA), Tia Tânia, uma vez me contou a história de uma de suas viagens, neste caso, para São Paulo. Ela foi a um fast food, salvo engano, em um shopping da capital paulistana e, ao ser atendida por uma garçonete, pediu um hambúrguer. Esta, então, percebendo seu sotaque “nordestino”, ainda que sendo suave, a trouxe um hambúrguer sem catchup e maionese. Tia Tânia, ao sentir falta, retrucou; a garçonete a surpreendeu ironicamente dizendo que não sabia que os nordestinos conheciam catchup. Quanta ignorância! Moral da história: a lanchonete perdeu um cliente e manchou a imagem dos paulistanos para com os nordestinos que conheceram esta narrativa.
Na segunda: por estes orkuts da vida a gente acaba por fazer amizades, mesmo que temporárias, em toda sorte de lugares. Assim, conheci um amigo que morava na baixada de Santos (SP). Sabe o que ele me disse quando lhe contei que eu morava em Caxias (MA)? Afirmou ferreamente que não gostava dos nordestinos porque achava que todos eram atrasados. Triste engano! O que eu fiz: mudei seu pensamento preconceituoso ao mostrar quanta cultura e quantas pessoas importantes, inclusive, para a história nacional, vieram do Nordeste.
Bem, mas meu foco maior na crítica não é exatamente todo esse bafafá sobre periferia, mas comentar outra situação: Bial me ofendeu não foi por dizer que Piauí (ou Timon) é periferia, mas por dizer apenas isso. Não acho necessário que se escondam as mazelas, não desejo isso, quero apenas que se ostentem também as grandezas de nossas regiões; para que se lembrem das belezas, da cultura, das realizações, assim como constantemente fazem os cidadãos do Sul e Sudeste.
Sou natural de Caxias(MA), cidade próxima a Timon e a Teresina, e aprendi a admirar o estado do Piauí. Portanto, observando que a região Nordeste já é considerada uma área de pouco desenvolvimento, a expressão “periferia do Nordeste” soou um tanto quanto depreciativa para qualquer cidadão nordestino, em se tratando, principalmente, de uma enunciação em rede nacional. Claro, a região possui índices verdadeiramente desfavoráveis, entretanto devemos considerar também outros fatores que colocam o Nordeste a um nível bem elevado no cenário nacional que, geralmente, não são colocados em evidência em momentos certos como são os de pico de audiência: por exemplo, os grandes escritores Gonçalves Dias(MA), Assis Brasil(PI), Teófilo Dias(MA), Graça Aranha(MA), Graciliano Ramos(AL), José de Alencar(CE), Rui Barbosa(BA), Coelho Neto(MA), Jorge Amado(BA), Gomes Campos(PI), Ferreira Gullar(MA), H. Dobal(PI), Ariano Suassuna(PB), Vespasiano Ramos(MA) dentre outros.
Incluirei um comentário que achei importantíssimo, do professor de Geopolítica da UFC, Maelson, postado no site 180graus de Teresina, em 19 de março de 2008: “Economicamente o Brasil é um país periférico. São Paulo é uma periferia frente às grandes metrópoles do mundo desenvolvido. É uma questão econômica e não deve ser de preconceito. Acho que o Bial errou sim! Como professor de Geopolítica da UFC afirmo que Bial errou! É só olhar os números da economia de Teresina! A área polarizada(comandada) por Teresina que já ultrapassa mais de cinco milhões de habitantes em estados do Nordeste, do Norte e do Centro-Oeste. É um grande centro urbano e econômico!”
Sabemos que ano passado (2007) a escola Dom Barreto foi classificada como a melhor escola do país. E onde fica? Em Teresina que, por sinal, é uma das poucas cidades projetadas do Brasil. Se é verdade o que Bial disse, é até triste constatar que a melhor escola do país encontra-se numa periferia (como o próprio Dicionário Aurélio descreve: “região subdesenvolvida afastada do centro urbano e que abriga os setores de baixa renda”). Irônico, não?
A respeito das personalidades do Nordeste quero contribuir, ainda, com pequenas informações de alguns nomes ilustres para o Brasil nascidos em Caxias, que é nordestina, do Maranhão: cidade que tem todo um histórico de lutas e conquistas e que possui as ruínas da Balaiada.
Antônio Gonçalves Dias (considerado o filho mais ilustre de Caxias; diplomata; historiador; professor; jornalista; dramaturgo; etnógrafo; autor da afamada “Canção do Exílio”, imitada por diversos poetas, a qual trecho inicial inspirou o Hino Nacional; é patrono da cadeira de nº 15 da Academia Brasileira de Letras, a Casa de Machado de Assis);
Henrique Maximiliano Coelho Neto (considerado o “príncipe dos poetas brasileiros”; foi o fundador da cadeira nº 2 da Academia Brasileira de Letras e Presidente da Instituição; homenageado em Teresina, em 1889, a deu o cognome de “Cidade Verde” ou “Cidade Garota”; e com a obra “A Capital Federal” denomina Rio de Janeiro de “Cidade Maravilhosa”);
Joaquim Vespasiano Ramos (poeta de vigorosa qualidade; patrono da cadeira nº 32 da Academia Maranhense de Letras; também patrono da nº 40 da Academia Paraense de Letras);
César Augusto Marques (poeta de vigorosa qualidade; patrono da cadeira nº 32 da Academia Maranhense de Letras; é autor de “A Samaritana”);
César Augusto Marques (historiador; médico; professor; foi Diretor do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro; é autor do raro “Dicionário Histórico e Geográfico do Maranhão”);
Teófilo Odorico Dias de Mesquita (poeta, autor de “Cantos Tropicais”; fez uma grande advocacia nos auditórios da paulicéia; político; jornalista; com as “Fanfarras”, em 1882, iniciaria na literatura do país o Parnasianismo; é patrono da cadeira nº 36 da Academia Brasileira de Letras);
Celso Antônio Silveira de Menezes (pintor; professor; escultor, suas obras fazem parte do acervo do Museu Nacional de Belas-Artes; em sua morte, Carlos Drummond de Andrade o classificou em uma crônica como “uma das expressões mais fortes da escultura brasileira”);
Raimundo Teixeira Mendes (um dos primeiros a estudar com fervor o idealismo de Augusto Comte; é autor do “Lema do Positivismo”, do qual foi extraída a insígnia da Bandeira Nacional do Brasil: “Ordem e Progresso”), entre outros tantos.
Caro leitor, portanto, não venho justamente culpar Bial por seu infeliz depoimento, até porque não tenho um “complexo de patinho feio” mediante tanta maravilha provinda de minha região, mas temos de convir que já seja uma idéia errônea de praxe de muita gente sulina acreditar que o nordeste é apenas sertão e periferia. Deixarei bem claro, assim, que só quero evitar que tantas proezas existentes na região sejam esquecidas. Ao invés de dar ênfase a um comentário precário, Bial deveria se preocupar em enfatizá-las.